A “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles Laici”, escrita por São João Paulo II, é uma reflexão sobre a vocação e a missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo. Este documento foi inspirado pelos trabalhos do Sínodo dos Bispos realizado em 1987, que se concentrou no papel dos leigos na vida da Igreja.
São João Paulo II expressa seu desejo de aprofundar o entendimento da identidade dos leigos e de esclarecer a sua importância dentro da missão universal da Igreja. Ele enfatiza que os leigos não são apenas destinatários da missão da Igreja, mas, acima de tudo, são agentes ativos na evangelização e no testemunho da fé cristã no mundo secular.
O Santo Padre realça a necessidade de um novo impulso apostólico e missionário entre os leigos, reconhecendo que eles têm um papel crucial na difusão do Evangelho na sociedade contemporânea. São João Paulo II aponta para a necessidade de uma participação mais ativa e consciente dos leigos na vida e missão da Igreja, de acordo com os ensinamentos do Concílio Vaticano II.
O documento convida os leigos, Povo de Deus, a uma maior compreensão de sua vocação e missão na Igreja e no mundo e incentivando-os a responderem com entusiasmo e dedicação ao chamado de Deus para uma participação ativa na obra de evangelização.
1. EU SOU A VIDEIRA E VÓS OS RAMOS: A dignidade dos fiéis leigos na Igreja-Mistério
O Capítulo I, intitulado “Eu sou a videira, vós os ramos”, aborda a dignidade dos fiéis leigos na Igreja e explora o simbolismo bíblico da vinha. A imagem da vinha é usada para representar o Povo de Deus, com Israel sendo descrito como a vinha de Deus no Antigo Testamento. No Novo Testamento, Jesus emprega o mesmo símbolo para revelar aspectos do Reino de Deus, e o evangelista João aprofunda essa metáfora, identificando Jesus como a “verdadeira videira” e os discípulos como os ramos.
O texto ressalta a visão do Concílio Vaticano II, que usa a imagem da videira para ilustrar a relação entre Cristo e a Igreja. Os fiéis leigos são descritos como vides unidas a Cristo, a videira verdadeira. Esta união vital é a base da identidade dos fiéis leigos e de sua missão na Igreja e no mundo.
Os fiéis leigos são reconhecidos pelo Concílio como pertencentes plenamente à Igreja, com uma vocação específica de buscar o Reino de Deus nas realidades temporais. Eles são descritos como parte integrante do Povo de Deus, compartilhando no múnus sacerdotal, profético e real de Cristo. Este capítulo também enfatiza a importância do Batismo e da Eucaristia na vida dos fiéis leigos, bem como sua participação na missão tríplice de Cristo.
Além disso, o capítulo aborda a índole secular dos fiéis leigos, destacando sua responsabilidade de levar a santidade de Cristo ao mundo, participando na construção do Reino de Deus através de suas atividades diárias. A santificação dos fiéis leigos é vista como um pressuposto fundamental para a missão salvífica da Igreja, e sua vocação à santidade é enfatizada como uma exigência do mistério da Igreja.
Em suma, o Capítulo I destaca a profunda conexão dos fiéis leigos com Cristo e a Igreja, enfatizando sua dignidade e missão única dentro do corpo eclesial. Através da metáfora da videira e dos ramos, é ilustrada a união vital dos fiéis com Cristo, fundamentando sua identidade e missão na Igreja e no mundo.
2. TODOS RAMOS DA ÚNICA VIDEIRA: A participação dos fiéis leigos na vida da Igreja-Comunhão
O Capítulo II, intitulado “Todos Ramos da Única Videira”, foca na participação dos fiéis leigos na vida da Igreja-Comunhão, explorando o Mistério da Igreja como comunhão e a relação dos fiéis leigos com a Igreja.
Este capítulo destaca a comunhão vital entre Cristo e os batizados, comparando-os com ramos de uma videira. Os fiéis leigos são vistos como parte integrante da Igreja, participando ativamente de sua missão e vida. Eles são chamados a cultivar uma relação de comunhão com Deus e com outros cristãos, refletindo a unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
O Concílio Vaticano II é referenciado como uma fonte que enfatiza a ideia da Igreja como comunhão. Esta comunhão é entendida como sendo fundamentada na Sagrada Escritura e enriquecida pelos sacramentos, especialmente o Batismo e a Eucaristia. A Igreja-Comunhão é vista como um povo unido, não individualmente, mas como um corpo que participa do sacerdócio de Cristo.
O texto também discute a diversidade e complementaridade dentro da Igreja, considerando a Igreja como um corpo orgânico composto por diferentes membros e funções. Esta diversidade é vista como uma fonte de riqueza e vitalidade para a Igreja.
Além disso, o capítulo aborda os ministérios e carismas como dons do Espírito Santo dados aos fiéis leigos para a edificação da Igreja. Estes dons são descritos em suas variadas formas e são entendidos como essenciais para a missão da Igreja no mundo.
O papel dos fiéis leigos na vida da Igreja é também explorado em termos de sua participação em paróquias, dioceses e na Igreja Universal. A importância da paróquia como expressão imediata e visível da Igreja é enfatizada, juntamente com o chamado para que os leigos participem ativamente em suas comunidades locais.
Finalmente, o capítulo discute formas de participação na vida da Igreja, incluindo a agregação dos fiéis leigos em associações, grupos, comunidades e movimentos. Estas formas de participação são vistas como cruciais para a missão da Igreja e para a promoção de uma cultura de comunhão e missão entre os fiéis.
3. CONSTITUÍ-VOS PARA IRDES E DARDES FRUTO: A corresponsabilidade dos fiéis leigos na Igreja-Missão
O Capítulo III do texto aborda a responsabilidade dos fiéis leigos na Igreja, enfatizando a importância da comunhão e da missão. A imagem da videira e dos ramos é usada para ilustrar a necessidade de dar fruto na vida cristã. A comunhão com Jesus é essencial para dar fruto, e a comunhão entre os cristãos é vista como o fruto mais belo. A missão da Igreja é interligada com a comunhão, sendo a comunhão tanto a fonte quanto o fruto da missão.
Os fiéis leigos são chamados a anunciar o Evangelho, sendo capacitados pelos sacramentos e dons do Espírito Santo. A missão da Igreja é vista como uma resposta aos desafios do secularismo e do indiferentismo, especialmente nos países do Primeiro Mundo.
A nova evangelização é destacada como essencial para formar comunidades cristãs maduras e para enfrentar as mudanças culturais e espirituais. Os fiéis leigos têm um papel crucial na catequese, especialmente entre as novas gerações.
A missão global da Igreja é enfatizada, com um chamado para ações missionárias em todo o mundo. A solidariedade e a colaboração entre as diferentes Igrejas são vistas como fundamentais para a missão.
O capítulo também aborda a importância do envolvimento dos leigos na vida pública, enfatizando a necessidade de uma política que respeite a dignidade humana e promova o bem comum. A participação na política é vista como uma forma de exercer caridade e justiça.
Finalmente, o texto destaca a importância de evangelizar a cultura, enfrentando a ruptura entre o Evangelho e a cultura contemporânea. Os fiéis leigos são encorajados a estar presentes nos campos da educação, ciência, arte e comunicação, utilizando esses meios para promover os valores do Evangelho.
4. OS TRABALHADORES DA VINHA DO SENHOR: Bons administradores da multiforme graça de Deus
No Capítulo IV, é enfatizado que todos os fiéis são chamados a trabalhar na vinha do Senhor, cada um com sua vocação e situação única. A diversidade de vocações é comparada à parábola bíblica dos trabalhadores chamados em diferentes horas do dia, simbolizando as várias idades e estados da vida.
Os jovens são destacados como uma esperança para a Igreja, possuindo um papel ativo na evangelização. O documento encoraja os jovens a serem sujeitos ativos na Igreja, reconhecendo suas inquietações e aspirações.
As crianças são vistas como símbolos da fé e humildade necessárias para entrar no Reino de Deus. Elas contribuem para a santificação dos pais e da Igreja.
Os idosos são valorizados pela sua sabedoria e experiência. Eles são encorajados a continuar a sua missão apostólica, oferecendo um testemunho único de fé e perseverança.
O papel das mulheres na Igreja e na sociedade é enfatizado, destacando a necessidade de reconhecer sua dignidade e contribuição. O documento desafia a Igreja a promover a igualdade e a participação ativa das mulheres, ao mesmo tempo que reconhece que não podem exercer o sacerdócio ministerial.
Os homens também são encorajados a assumir suas responsabilidades na Igreja e na sociedade, especialmente nas áreas onde sua presença é fraca ou ausente.
Os doentes e atribulados são vistos como parte integrante da missão da Igreja. Eles são chamados a oferecer seus sofrimentos em união com Cristo, contribuindo para a evangelização e a santificação da Igreja.
Finalmente, o documento aborda a diversidade das vocações laicais, incluindo os Institutos Seculares, e reforça a ideia de que cada fiel, independente de seu estado de vida, tem uma vocação única a desempenhar na vinha do Senhor. São Francisco de Sales é citado para ilustrar como cada pessoa, em seu estado de vida, pode aspirar à santidade e contribuir para a missão da Igreja.
5. PARA QUE DEIS MAIS FRUTO: A formação dos fiéis leigos
No Capítulo V, a formação dos fiéis leigos é abordada com o enfoque em seu amadurecimento contínuo na fé e em dar cada vez mais frutos como membros ativos da Igreja.
Deus é apresentado como o agricultor que cuida de sua vinha, com os fiéis leigos sendo as vides. A vitalidade e o fruto dessas vides dependem da sua conexão com Cristo, a verdadeira videira. A formação integral e permanente dos fiéis leigos é destacada como essencial para responder à responsabilidade de crescer e amadurecer na fé.
A formação visa ajudar os fiéis leigos a descobrir e viver sua vocação e missão. Isto envolve escutar a palavra de Deus, a oração constante, a direção espiritual e a compreensão dos dons e talentos recebidos, bem como das circunstâncias de vida.
A formação integral para os leigos abrange vários aspectos, incluindo a formação espiritual, doutrinal, social e humana. É necessário viver uma vida unificada, onde não há separação entre a vida espiritual e a secular, e todas as atividades são vistas como parte do plano de Deus.
Diversos ambientes são importantes para a formação dos leigos, incluindo a Igreja universal, as Igrejas particulares, as paróquias, as pequenas comunidades eclesiais, as famílias cristãs, escolas e universidades católicas, e movimentos e associações. Cada um desses ambientes contribui de maneira única para a formação.
A formação é um direito e um dever de todos, e deve ser acessível a todos, especialmente aos mais pobres. A formação dos formadores é crucial para garantir uma educação eficaz e abrangente.
O documento sublinha a importância de integrar a cultura local na formação e reconhece a necessidade de uma abordagem que considere a “auto-formação” como essencial, incentivando os fiéis a assumirem a responsabilidade por sua própria formação.
Por fim, ressalta-se que a eficácia da formação não depende apenas de métodos humanos, mas também da abertura à ação de Deus, enfatizando a importância da colaboração dos fiéis com Deus em seu próprio processo de crescimento espiritual.
6. Apelo do Santo Padre
No encerramento do documento pós-sinodal, o Papa faz um apelo a todos os fiéis leigos, homens e mulheres, para responderem ao chamado de Cristo para trabalhar na “vinha do Senhor”. Este apelo reflete o foco do Sínodo sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja.
A experiência do Sínodo foi uma vivência espiritual significativa, marcada pela atenção à orientação do Espírito Santo e pelo reconhecimento do papel dos leigos na comunhão e missão da Igreja. O sucesso deste Sínodo depende da aceitação ativa do chamado do Senhor por todos os membros da Igreja, especialmente os leigos.
O Papa exorta todos os pastores e fiéis a manterem viva a consciência de serem membros da Igreja, conscientes da dignidade extraordinária conferida pelo Batismo. Como filhos de Deus, membros de Cristo e templos do Espírito, os fiéis são chamados à santidade no amor, vivendo sua vocação de acordo com a “índole secular” que lhes é própria.
A consciência eclesial inclui um forte senso de comunhão, essencial para a vida e missão da Igreja. Esta comunhão deve ser vivida diariamente, promovendo a unidade e colaboração entre os diversos grupos, associações e movimentos de fiéis leigos.
O Papa destaca a responsabilidade da Igreja de atender ao mandamento de Cristo de pregar o Evangelho por todo o mundo, enfatizando a importância de uma nova evangelização para o mundo atual. Os leigos têm um papel crucial nesta tarefa, sendo chamados a anunciar e viver o Evangelho.
Finalmente, o Papa confia os frutos do Sínodo à intercessão de Maria, Mãe do Redentor, expressando a sua oração e confiança na fecundidade espiritual dos resultados do Sínodo. A oração e o apelo se unem, simbolizando a confiança na proteção e guia de Maria para a missão da Igreja e seus fiéis.